Bem vindo!

BEM VINDO!

Ex officio é uma expressão latina que significa "por dever do cargo, por obrigação"; muito utilizada no contexto jurídico para se referir ao ato que se realiza sem provocação das partes. Para o contexto do cristianismo, um "cristão ex officio" é aquele que não espera ser provocado ou "incentivado" para ter uma atitude padronizada em Cristo; as atitudes fluem como instinto. Sinta-se livre neste ambiente para opinar, concordar, discordar, sugerir... Desde que de forma respeitosa.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pastores que sofrem nas mãos da igreja - o outro lado da moeda

Renato Vargens

Devido a existência de uma casta de pastores que vivem nababescamente fazendo do nome Deus catapulta para o enriquecimento pessoal, um número incontável de pessoas associam o ministério pastoral a um meio fácil e desonesto de enriquecer e ganhar dinheiro.

Lamentavelmente sou obrigado a concordar que alguns dos chamados “ministros de Deus”, em virtude da fama e do poder que o ministério lhes pode conceder, negociaram a fé, trocando suas almas, sonhos e dignidade por trinta moedas de prata. Tais pessoas imbuídas de uma espiritualidade mistica e sensasionalista transformaram-se em mascates da fé promovendo invencionices escalafobéticas cujo objetivo final é a sua prosperidade financeira. Todavia, ao contrário do que se possa imaginar existem em nosso país, milhares de pastores que não se dobraram diante deste espírito mercantilista. Na verdade, conheço inúmeros ministros do evangelho que passam significativas necessidades simplesmente pelo fato de terem se recusado a vestir a carapuça do coronelismo, optanto assim por viver a vida cristã de forma santa, irrepreensível e ilibada. 

Alguns destes ministros (nem todos, graças a Deus) sofrem horrores nas mãos de seus conselhos, presbitérios e assembleías, que de forma desrespeitosa humilham seus pastores pagando-lhes um salário de fome. Não são poucas as vezes que diante de uma crise financeira a igreja propõe a diminuição do salário pastoral ou o corte do plano de saúde dos filhos, ou até mesmo demissão do ministro. Para piorar a situação, alguns consideram o trabalho do pastor fácil demais, daí não entenderem a necessidade do pastor gozar férias, isto sem falar no massacre emocional que fezem sobre a esposa e familia do pastor exigindo deles perfeição em todos os momentos da vida.

Caro leitor, ouso afirmar que alguns irmãos não tratam seus pastores como deveriam. Vez por outra recebo emails ou ouço de algumas pessoas criticas relacionadas ao salário dos pastores. Ora, como mencionei anteriormente, sei existem alguns pastores que vivem nababescamente usufruindo do dinheiro do povo de Deus, no entanto, a esmagadora maioria dos líderes cristãos lutam com dificuldade para sustentar suas famílias. Sei de incontáveis histórias de homens de Deus que trabalham duro fazendo tendas, visto que a igreja que pastoreia não valoriza o seu serviço pastoral pagando-lhe um salário digno.

Ora, assim como os membros de sua igreja o pastor precisa pagar suas dividas, saldar seus impostos, vestir seus filhos, pagar escola, comprar material escolar, e tantas outras coisas mais. No entanto, parece que parte da igreja de Cristo encontra-se anestesiada quanto as necessidades de seus líderes espirituais, mesmo porque, para alguns o pastor não deveria receber salário.

Há pouco soube de uma história no mínimo triste. O tesoureiro de uma igreja teve a cara de pau de afirmar o seguinte: - “Ué, ele não é pastor? Que viva pela fé! A igreja não tem dinheiro para pagar este mês o salário dele.” Em outra situação, a junta diaconal disse: “Ele tá reclamando de que? Ele que espere! Quando a igreja tiver dinheiro paga o que lhe deve!”

A Bíblia ensina que quem ministra do altar deve viver do altar. "Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho."

Caro leitor, a orientação do Senhor é clara em afirmar que os que anunciam o evangelho que vivam dele. Além disso, as Escrituras afirmam que os “Os anciãos que governam bem sejam tidos por dignos de duplicada honra, especialmente os que labutam na pregação e no ensino. Porque diz a Escritura: Não atarás a boca ao boi quando debulha. E: Digno é o trabalhador do seu salário” ( Timóteo 5:17-18) 

Diante do exposto, acredito que a Igreja de Cristo deva tratar com amor, respeito e consideração àqueles que no Senhor os tem presidido. Lidar com desdém e desprezo o salário de homens de Deus que dedicam suas vidas a oração, ensino e pastoreio de vidas é opor-se aos ensinamentos dos apóstolos.

Pense nisso!


domingo, 13 de março de 2011

A paradoxialidade do evangelho



Por Edvaldo Melanias


Disse bem o apóstolo ao afirmar que a Palavra era loucura diante de uma sociedade conturbada e confusa, perdida em suas próprias concupiscências e conceitos. Imaginem se fossemos comparar com o nosso mundo contemporâneo e caído. Quanta paradoxalidade não iríamos constatar? Senão, vejamos:
Como aceitar, em meio a um mundo em que todos querem vencer e a disputa e a busca pelo sucesso é um prato que se come todos os dias, que os últimos serão de fato os primeiros? (Mt 20.16 - Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos).
Como pode o fraco exultar na sua fragilidade, a ponto de, com isso, tornar-se o mais forte, mesmo que necessariamente não seja visto como tal, e indiferente de ser reconhecido ou não, admitir seu estado de fortaleza? Como a necessidade, em todas as suas formas, e a perseguição, podem nos trazer prazer? (2 Co 12.10 - Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte).

Como compreender que os mais simples e humildes alcançam maior graça do que os soberbos que são adulados e paparicados por aquilo que necessariamente não são? (Tg 4.6 - Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes).

Como alcançar a verdade absoluta de que aquilo mais grandioso e rico foi preparado para os mais pobres e incapazes de pagar por tal? (Lc 6.20 - Então, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus).

Como uma rica festa poderia se tornar a mais nobre, quando os convidados são os menos ilustres, os mais sujos e os menos abastados que se possa imaginar? (Lc 14.13 - Mas quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos).

Como entender isto: Triste ao ponto de alegrar aos demais; Pobre ao ponto de fazer abundar os armazéns dos outros; Desprovido de tudo a ponto de ser o mais abundante. Entendeu? (2 Co 6.10 - como entristecidos, mas sempre nos alegrando; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, mas possuindo tudo).

Como a menor quantidade ofertada pela mais visivelmente miserável das criaturas, torna-se a maior ofertada qualitativamente pelo mais nobre dos filhos? (Mc 12.43 - E chamando ele os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitavam ofertas no cofre).

Como entender que a maior honra deve ser dada ao que se aparenta com o que há de menos honroso? (Tg 2.3 - e atentardes para o que vem com traje esplêndido e lhe disserdes: Senta-te aqui num lugar de honra; e disserdes ao pobre: Fica em pé, ou senta-te abaixo do escabelo dos meus pés).
Como toda a soma da sabedoria e do conhecimento produzido no mundo, nada mais é que mera e limitada sabedoria humana? (1 Co 3.19 - Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia).

Como aquilo que salva e transforma o homem pode ser interpretado como loucura pelo mesmo homem que dela é o maior necessitado? (1 Co 1.18 - Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus).

Como entender que em meio a crise e as nossas necessidades e ao desejo constante de amontoar bens e riquezas, é melhor dar aquilo que pode até está faltando, e não aquilo que está sobrando? (At 20.35 - Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber).
Como entender que quando choro sou feliz de fato, visto que terei consolo? (Mt 5.4 - Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados).
Como entender que o importante é estar unido não importando a situação? (Rm 12.15 - alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram).

Como entender que crescer é se tornar pequeno? (Jo 3.30 - É necessário que ele cresça e que eu diminua).

Como entender que a sua vida não é sua, e que a morte é o maior de todos os ganhos? Fp 1.21 - Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro).

Como entender que o maior e mais belo de todos os mistérios, aquilo que humanamente não pode ser compreendido, foi anunciado aos que se fizeram pequenos? (Mt 11.25 - Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos).

Como a loucura e a fraqueza segundo Deus, confunde a sabedoria e a fortaleza segundo o homem? (1 Co 1.27 - Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes).

sábado, 12 de março de 2011

Tribo Learsi - quanta semelhança!!!


Por Júnio Almeida
O povo da tribo Learsi vive no imenso Brasil por muito tempo, mas sem muita predominância, sem muita popularidade. Hoje, estão entre os destaques dos jornais de grande circulação. Na verdade, até eles mesmos já produzem às vezes seus próprios jornais.
Era um povo humilde, simples, como todas as outras tribos já antes conhecidas: um cacique para cuidar da liderança da tribo; um pagé para os assuntos espirituais. Um Deus (eram monoteístas); uma gruta para adorá-lo. Os tambores traziam os sons, as músicas aos ouvidos e sempre eram oferecidas ao seu Deus. Eram também um povo absolutamente generoso e compartilhavam suas caças e pescas.
Povo primitivo - suas leis eram escritas nas rochas da gruta e, com isso, seus valores eram explícitos a todos os nativos.
Isso foi mais ou menos assim até a chegada do homem branco. Daí em diante, tudo mudou...
O homem branco mostrou aos nativos que suas coisas eram obsoletas, ultrapassadas. Se eles conhecessem seus serviços de saúde, não precisariam de um pajé para interceder por suas curas. Para que tambores? O homem branco tem ipod - é só colocar o fone no ouvido, a música já está pronta. E para que oferecê-la a  alguém? O que importa é satisfazer a si mesmo.
Para que um cacique? Cada um não deve ser líder de si mesmo? Então para que precisam de liderança?
Um monte de leis em rochas? O homem branco tem livros. E os livros do homem branco dizem que os "valores" são relativos; então não há o porquê deles se preocuparem se estão fazendo o que é certo ou errado, tudo vai do ponto de vista.
Compartilhar? Não... Cada um corra atrás do que é seu. Não dá para sustentar ninguém nas costas - filosofia do homem branco.
Gruta para adoração de um só Deus? Que ultrapassado! Por que não adoram em suas próprias tendas? Ou seu Deus não é capaz de estar em vários lugares ao mesmo tempo?
E, na verdade, para que um Deus? Dinheiro resolve todos os problemas. É só lutar que ele vem.

Quando o homem branco "abriu os olhos" do povo Learsi, nunca mais foram os mesmos!!!

Bom, agora vamos às explanações:
LEARSI é ISRAEL ao contrário. Notou que só mudei o nome?
Pastores que são os líderes de suas tribos (igrejas), e que intercedem espiritualmente como os pajés. 
A gruta é como os templos para adoração.
Os tambores são os instrumentos.
Suas leis estão escritas na Palavra, tão esquecida entre o "povo de Deus".
Suas tendas são suas casas.
O homem branco é a filosofia mundana vinda do diabo.
Agora é só o jogo de palavras. A interpretação é a mais simples possível.

Pense nisso!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Cinzas, Silêncio e Solidão


Carlos Moreira

A nossa vida é um carnaval
A gente brinca escondendo a dor
E a fantasia do meu ideal
É você, meu amor

Sopraram cinzas no meu coração
Tocou silêncio em todos clarins
Caiu a máscara da ilusão
Dos Pierrots e Arlequins

Essa marchinha famosa – Turbilhão – talvez você não saiba, é de autoria de Moacyr Franco. Dela transcrevi apenas uma parte, a que melhor expressa o que penso em relação à festa de Momo.

Hoje é quarta feira de cinzas, e com ela o carnaval termina. Foram dias maravilhosos, de alegria, euforia, emoção, festa, encontros e felicidade. A grande maioria da população brasileira esperou o ano inteiro para poder “celebrá-la”. Aliás, dizem os especialistas, nosso país só começa mesmo a “funcionar” depois das festividades.

De fato, como na marchinha do Moacyr, a vida do brasileiro é um carnaval. Mas diferentemente das frases utópicas citadas acima, a festa se presta apenas a esconder a dor. Na verdade, não só ela, mas também o desespero, a angústia, o medo, a solidão, a falta de ideal, o esvaziamento do ser, o abandono da alma. Cinco dias de “folia” para extravasar tudo aquilo que se acumulou na consciência e tornou-se entulho no coração durante um ano inteiro. Convenhamos, é pouco...

Mas vamos celebrar! E celebraremos o que? Eu não sei... Talvez as adolescentes totalmente embriagadas, vomitadas de cerveja, jogadas num canto das ladeiras de Olinda ou abandonadas no fundo do salão de um clube qualquer. Garotas sem pais, sem família, sem amigos, sem perspectivas, sem sonhos, usadas como diversão nas mãos de gente matreira, pedaços de carne para se apalpar, beijar, lamber, saborear, transar... Depois vem a realidade crua e fria: descarta, joga no lixo, ninguém é de ninguém.

Quem sabe celebramos a vida dos garotos que consomem lança perfume, cocaína, maconha, crack e bebida alcoólica para ficar “ligados”, “espertos”, fazer “bonito” diante dos amigos. Aí vem aquela doideira, o estado propício para dar uma garrafada em alguém, para juntar um bando e começar uma briga, desferir golpes que destroem faces, roubam sonhos, ceifam vidas. 

Talvez estejamos a celebrar o beijo vulgarizado, a futilidade elevada à enésima potência, a vaidade alçada ao platô mais alto, a sensualidade derramada como perfume barato, à vulgaridade posta como alto estilo, o ser humano transformado em “besta”, animal não racional, ou como bem disse o Alceu Valença: “bicho maluco beleza”!  

Não seja tímido! Ainda há muito mais a se celebrar... Não esqueçamos o sexo descompromissado, as orgias, o "amor" feito nos motéis, com dois, com três, com vários. E ainda tem os bailes, sexo ao vivo, ali mesmo no salão, ou a “pegação” dentro do carro, no meio da rua, no canto do muro, detrás do matagal. Vale tudo! E vale mesmo! Ultrapassa até a letra do Tim Maia, que dizia que “só não vale dançar homem com homem e nem mulher com mulher”. No carnaval, pode homem com homem, mulher com mulher, travesti, transexual, bissexual, é sexo “livre, leve, solto”. O importante é ter prazer, não importa como, nem muito menos com quem.  

Celebremos também as mortes! Por que não? Morte por assalto, por estupro, por briga de bar, por briga de rua, por causa de mulher, por causa de homem, por causa de nada! Celebremos as mortes dos que sofreram overdose, dos que entraram em coma alcoólica e se foram, dos que pegaram seus carros, dirigiram velozmente, atropelaram transeuntes, mataram inocentes, chocaram-se com alguma árvore, ou com um poste qualquer. Ali deixaram esvair suas vidas: tenras, frívolas, fúteis... E o que vem em seguida? Apenas horror: o IML recolhendo corpos e os pais chorando na calçada e dizendo: “onde foi que eu errei”... Não esqueçamos ainda da legião de anônimos que se matou por causa da angústia, da solidão, da falta de paz, da falta de "chão".

Hoje é quarta feira, os clarins irão se calar, a máscara da ilusão vai cair, a vida vai nos chamar de volta a realidade, nossa consciência talvez acorde do sono profundo no qual mergulhou nestes dias. Sim, amanhã nos depararemos com o saldo na “conta”, a dor no peito, o vazio na alma, a ressaca moral, espiritual, emocional, a sensação de que nos coisificamos, perdemos nossa essência, nossa solução interior, nossa inteireza, nosso ser.

Aí talvez alguém diga: socorro! Fomos assaltados! Roubaram nossa alegria, nossa felicidade! Fomos arrastados pela multidão – não só dos blocos – mas pelo “sistema”, nos tornamos massa de manobra, sujeitamo-nos ao que não somos, experimentamos o que abominamos, curtimos o que nos dá náusea, achamos bonito o que é feio, chamamos de alegria o que produz morte e dor.

Mas saiba, alguém lucrou muito com isto! Você tem alguma idéia quem foi? Além do mais,  não se engane, na festa de Momo, há uma enorme indústria lucrando por trás de cada manisfestação, seja a que acontece nos palcos, nos trios, nos blocos, nos salões ou nos desfiles. Eles sempre ganham, você sempre perde...      
Finalizo com outra marchinha de carnaval. Esta é do Luis Bandeira, tão famosa quanto à primeira, também não menos real. Lamento informar, mas restaram apenas cinzas, silêncio e solidão. Os confetes ficaram no salão, vão para o lixo mais tarde...

É de fazer chorar
quando o dia amanhece
e obriga o frevo acabar
ó quarta-feira ingrata
chega tão depressa
só pra contrariar

Com respeito a quem gosta do carnaval, sinceramente, espero que tenha valido a pena... Mas posso lhe afirmar, com absoluta certeza, não valeu não...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Dona Vilma - uma velha história (Parte 1)

  
Por Júnio Almeida


 A casa era simples, humilde, mas bem arrumada. Um portão pequeno; pendurado nele estava a placa "vende-se din-din". O chão de terra contrastava com a parede branca pintada de cal. Algumas plantas no jardim e uma roupa pendurada em um varal de bambu, e claro, uma sombra preguiçosa de um pé de cajú. 
    Dois degraus e já o acesso da casa. Passando pela sala, já a cozinha. Nesta há um homem, um alguém que luta, luta contra o desejo de fazer a desgraça. Cansado do trabalho ainda tem que aturar piadas das "coisas postas em sua cabeça". São cinco horas da tarde e ele não pára de pensar em quantas vezes insistiu na mesma história:
    - Queria tanto esquecer esta história! - ele balbucia - Queria tanto...  - Sua voz embarga. A lágrima escorre.
    João já não suporta tantas mentiras, e agora está chegando em seu limite. Hoje ao sair para o trabalho deu um beijo em sua esposa, Vilma, disse que a amava. Ao retornar o que encontrou não foi a reciprocidade.
    São quatro da tarde. Ele olha no relógio e vê que ainda faltam 2 horas para voltar para casa. 
     - João, devido seu banco de horas extras você já pode ir para casa. - Diz seu chefe, Luíz Augusto.
     - Ok senhor. Muito obrigado. - ele se vai já na esperança de descansar.
   Antes, resolve fazer uma surpresa: passa em uma floricultura e compra aquela bela rosa (que a pouco murchará) para sua mulher. No caminho uma dor no peito lhe aflige. Apenas um presságio mal - ele pensa.
  Um Gol estacionado à frente de sua casa, ele estranha. Não conheço - ele diz. O portão está trancado, mas ele tem a chave. "Que estranho." Abre a porta, também trancada. Começa a caminhada, mais parecida com um corredor da morte, um frio corta sua espinha. Chega à porta do quarto; olha pela fresta da porta e esconde o rosto. Que desgosto. "Ahh!!!" - Ele grita dentro de si no seu silêncio. Martírio, tortura, agonia. Não acreditava no que seus olhos lhe diziam. O silencio angustiante da morte o alcançou, aquela morte que o corpo continua com dor. O suor pela têmpora escorria, e sua mão trêmula sacudia. O sangue foi subindo, o ódio em sua mente, o punho contraído também contraia os dentes. Com a face sombria, sua honra partida, pensou em muitas coisas, deu um frio na barriga.
   São nove da noite; ele se dirige à cozinha. Com a lágrima no rosto, pergunta a Deus o porquê. 
   - Pela quarta vez Senhor!? E ainda me mandaste perdoá-la? Ela é uma prostituta! Abre as pernas para qualquer um que passa!
   Novamente o silêncio fala mais alto.
   - Queria tanto esquecer esta história! - ele balbucia - Queria tanto... - Sua voz embarga. A lágrima escorre.
   - Por que o Senhor me permitiu casar com uma mulher dessas?
  De repente ele vê alguém no portão acenando para ele. Um senhor barbudo, com uma calça jeans e um camisa de manga curta. João percebe que o senhor o está chamando e sai, mesmo com os olhos banhados de lágrimas:
   Ao chegar ao portão diz: o que deseja?
   Deus me mandou vir aqui falar com o você, João.
   - Como você sabe meu nome?
   - Se você vier comigo eu lhe conto isso e muito mais.
   - Para onde?  - João pergunta intrigado.
   - Não importa o lugar, só não pode ser aqui. 
   - Por quê? - ele insiste.
   - Deus já me mostrou o que está acontecendo lá com sua esposa, e com o rapaz aí do Gol. E também as perguntas que tens feito para Deus. Eu também sei que já é a quarta vez.
   João fica desconfiado, intrigado, mas mesmo pasmo resolve aceitar o convite.
   - Preciso que confie em mim.
   - Então, para onde vamos?
   - A um lugar onde Deus vai tratar muitos assuntos sobre sua alma.
Sua adrenalina começa a subir desesperadamente. O coração acelera cada vez mais rápido. Nem sabe o que está por vir.