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Ex officio é uma expressão latina que significa "por dever do cargo, por obrigação"; muito utilizada no contexto jurídico para se referir ao ato que se realiza sem provocação das partes. Para o contexto do cristianismo, um "cristão ex officio" é aquele que não espera ser provocado ou "incentivado" para ter uma atitude padronizada em Cristo; as atitudes fluem como instinto. Sinta-se livre neste ambiente para opinar, concordar, discordar, sugerir... Desde que de forma respeitosa.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O rei e o mendigo



Por Júnio Almeida
O rei estava à porta de sua cidade, quando olhou para o mendigo pedindo esmola.
 - Uma ajudinha, ó rei, meu senhor.
Ele volta-se para seu súdito e diz:
 - Tenho misericórdia deste homem. Quero que o levem ao palácio.
Os homens sem entender o motivo obedeceram; mas as dúvidas pairavam sobre suas cabeças - "por que o rei levará um mendigo ao palácio?"
Ao chegarem, o mendigo (João) percebe todos aqueles olhares de desprezo; suas roupas eram velhas, seus cabelos embaraçados, a barba por fazer, o odor que exalava não dada margem para incertezas - era um mendigo que há um bom tempo não tomava banho. De repente ele ouve alguém o chamar:
 - João? - diz o rei Henrique I fazendo com que todos se voltem para ele.
 - Sim, senhor.
 - Quando te vi pedindo esmola à porta da cidade me compadeci de ti. Não lhe darei apenas uma ajudinha como pediste; já ordenei que preparem seu banho. Também farão sua barba, cortarão seus cabelos e te darão novas roupas. Além disso, a partir de hoje, morarás no palácio comigo, servido-me como meus outros servos.
 - Não tenho como pagar por isso, ó rei, nem sei como agradecê-lo. Além disso não mereço tal beneficência.  Pois tornei-me mendigo por meus próprios erros. Desestruturei minha vida até chegar à mendicância.
 - Isso não é por você merecer, João. Também sei que não tem como pagar por nada. Apenas fiz por vontade própria. Saiba que desejo somente que sejas fiel ao serviço que eu puser em suas mãos.
 - Ó rei, como poderia eu não ser fiel ao meu senhor que tira-me da lama e põe-me em seu palácio? Com certeza serei fiel a ti, e tudo o que propuseres farei da melhor maneira que puder; que isso seja a forma de agradecê-lo.
 - Certo. Agora apressa-te e vai cuidar de tua aparência. - diz o rei com o sorriso no rosto enquanto João apenas acena com a cabeça.
Seis meses se passam, e João servia o rei sempre com a alegria estampada no rosto. Mas agora o êxtase da gratidão já se foi. Estar diante do rei já lhe é normal. Antes, tremia ao vê-lo; hoje, já não faz mais diferença. O sorriso deixou de ser tão sincero.
 - João? - diz o rei Henrique.
 - Sim, senhor.
 - Tenho uma nova missão para te dar hoje: quero que vá às cidades vizinhas, em meu nome, e entregue estas cartas aos reis de lá.
 - Tudo bem senhor, farei agora mesmo.
O antigo mendigo sai do palácio para encarar um missão - atravessar lugares de difícil acesso para entregar apenas cartas. João não estava satisfeito. Era mais cômodo permanecer no castelo, no palácio real, em vez de se arranhar, fatigar, correr riscos de assaltos, pois agora ele está com vestes novas, trajes finos. Claro que seu orgulho lhe subiu à cabeça. Sua insatisfação com a ordem do rei é evidente:
 - Por quê? Entregar apenas meras cartas a outros reinos? Que imbecilidade de Henrique! E por que logo eu? Estava tão bem por lá. Agora preciso passar esses quinze dias nestas viagens inóspitas.
Ao retornar de sua missão, João apresenta-se ao rei e lhe diz como a cumpriu. 
 - Muito bem João, diz Henrique sorrindo.
Ele sem entender continua parado em frente do rei com um aspecto sério.
 - Olhaste o conteúdo das cartas?
 - De maneira nenhuma senhor; jamais abriria uma carta que não fosse minha.
 - Certo. João, aquelas cartas eram divulgar na circunvizinhança que a partir de agora serás governador do palácio real. Eu queria que todos soubessem e te respeitassem, pois quando alguém vir para tratar assuntos cotidianos, não falarão mais comigo; tu resolverás os problemas.
Agora João está pasmo, perplexo. Como de mendigo à governador real? Novamente não merecia aquilo. Ele pára e reflete nas palavras de raiva que proferiu durante a viagem; das reclamações que fizera; das tantas murmurações sem saber.
 - Ó rei, novamente não tenho como agradecê-lo.
 - Não se preocupe. Apenas me sirva com fidelidade; só isso que te peço.
 - Com certeza senhor.
João volta para seu quarto para descansar da viagem.
Passam-se mais seis meses, e agora o "ex-mendigo" tem acesso à todos os lugares do grande castelo real. Conversa de igual  para igual com as pessoas mais importantes, entre elas a filha do rei, a princesa Catarna, com a qual está noivo.
O rei lhe permitira sua própria filha, mas o advertiu severamente que a desposasse apenas no casamento. Óbvio que João concordou. Só precisaria esperar mais dois meses para isso. Mas...
- João - diz Carolina com sua doce voz.
- Sim. Acho melhor você sair daqui. Se meu pai nos pegar no quarto a sós não será bom para nenhum de nós. 
 - Eu sei, mas te quero tanto!
 - Eu também, mas não podemos. Concordamos em esperar nosso casamento. Você jurou fidelidade ao meu pai. O trairia fazendo isto.
 - Eu sei, mas ele não irá descobrir.
 - Pare. Estou dizendo, é melhor você sair daqui logo, antes...
Abre-se a porta do quarto. Henrique vê a cena.
 - O que estás fazendo aqui João, a sós com Catarina?
 - É... - João coça a cabeça.
 - É...? Não me juraste fidelidade? Tudo o que és hoje fui eu quem te fiz. Assim que me retribuis. Somente lhe pedi fidelidade em me servi. Me traístes à fidelidade de tuas palavras logo com minha filha? Fui tão bom para contigo. Te amei como a um filho. Terias o reino como sucessão, pois não tenho filho homem, e casando-se com minha filha, logo tu serias o rei após mim. Nada disto lhe bastou; quis mais. Ofereci-lhe a mão e quisestes o braço. - Henrique esbraveja à porta do quarto.
 - Senhor. Errei. Realmente errei contra ti. 
 - É, realmente erraste.
 - Sei que unicamente mereço ser expulso daqui. Voltar à mendicância. Sei que falhei contigo, e não mereço o teu perdão. Mas assim como eu não merecia tudo o que fizeste por mim desde o princípio, como apenas me viste segundo o teu olhar de misericórdia, suplico que me veja assim de novo. Olha-me com teu olhar de piedade novamente, por favor. Lembra-te de que fui mendigo e apenas como um miserável; vê-me com esta perspectiva novamente. Tenha piedade de mim, pois sou falho. Não me expulse de tua presença, permita-me ao menos voltar a servi-lo como um empregado como sempre fui. - Diz João arrependido da besteira que fez, e com lágrimas nos olhos.
 - João, João - Henrique faz uma pausa. Logo com minha filha!? - Ele respira fundo e diz: Tudo bem. Se estás arrependido eu lhe perdoo. 

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