Eles entram no carro. João continua admirando o interior do veículo. Não consegue entender como poderia parecer tanto. "Será que é o mesmo carro do meu pai?" - ele se pergunta. Ao mesmo tempo responde "impossível! Capotou e deu perda total; eu estava lá!"
- Eu sei! -Joaquim comenta.
João toma um susto. Passa-lhe um frio no corpo: "será que sabe o que eu pensei? Não é possível que ele leia pensamentos. Mas se bem, como sabe tantos detalhes da minha vida?"
- Sabe o quê? - João interroga franzindo o rosto.
Joaquim sorri olhando para a estrada. Espera uns segundos e liga o carro. - Sei que você está absolutamente perdido sem saber o que está acontecendo, João.
- Ah! (Por pouco ele não deixa escapar a gafe). Se sente um pouco mais aliviado e comenta: é verdade! Mas me responde, como foi que você surgiu do nada? Por foi atrás de mim?
- Lembra-se de que te disse que alguém quer te ensinar coisas novas? Foi ele que me mandou ir até você.
- Mas você já me conhecia de algum lugar?
- Nunca vi mais feio! - Eles sorriem.
- Olha, ainda não te dei essa liberdade, viu! - João retruca, mas não hesita em abrir o sorriso.
João começa a se sentir mais à vontade. A adrenalina já baixou e ele consegue fazer perguntas mais seguro, mais racional.
- Quem é esse que falou para vir ter comigo? Donde ele me conhece e o que ele quer me ensinar?
- Ele te conhece há 26 seis anos.
- Então acredito que ele me confundiu com algum outro. Só tenho 25 anos; ainda faltam três meses para completar os 26 anos. - João usa sua velha ironia.
Joaquim novamente sorri. Olha para João de rabo de olho e volta o olhar para a estrada. - João, ele te conhece desde a barriga da sua mãe, é por isso.
João apenas engole seco e tenta esboçar um sorriso do mais sem-graça. - Qual é o nome dele?
- Vai me dizer que ainda não descobriu mesmo com tantas dicas?
- Jesus!? Só for, quero lhe dizer que já o conheço.
- Não foi o que ele me disse.
- O que ele falou?
- Que você até sabe um pouco sobre ele, mas na verdade, nunca o conheceu. Descobriu um pouco sobre ele lendo a bíblia, porém nunca teve intimidade com ele.
- Mas eu sempre fui à igreja! Sempre orei, jejuei. Carrego a bíblia em baixo do braço desde criança. João responde de forma revoltada e ousada.
- Você carregou a bíblia no braço, mas nunca no coração. - Joaquim fala em tom baixo.
João vira-se rapidamente e despeja em alto tom:
- Quem é você para me dizer isso? Nunca me conheceu. Não sabe das dificuldades que passo. Por que você me julga sem nem me conhecer?
- Não estou te julgando. Apenas repassando o que ele me disse. Minha missão é levá-lo até o Senhor. Joaquim continua em baixo tom de voz.
- Como você é presunçoso! Quem disse que Jesus não está comigo. Você pensa que vai me levar até ele como se eu nunca tivesse conhecido?
Joaquim permanece em silêncio.
- Dê meia volta! Não vou com você para lugar nenhum! Vamos voltar para minha casa. Até agora você não me falou para onde está me levando.
- É assim que você reage diante dos confrontos da vida? Na primeira oportunidade quer retroceder? - Joaquim fala em como quem tem autoridade.
João se assusta com a realidade. Começa a relembrar que nas muitas vezes que foi confrontado retrocedeu. Quantas vezes sua mulher não lhe reclamou isso! Ele abaixa a cabeça.
- Ei, estamos próximos da minha chácara. É para lá que estou te levando; foi onde Jesus havia me mandado; é onde ele quer te encontrar.
Eles finalmente chegam ao lugar. O relógio de João dá um som agudo - são vinte horas.
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