Por Júnio Almeida
Em pleno sábado ensolarado eles conversavam à beira do lago. Pedro, André e Marcos. Três amigos que cresceram juntos. Moravam na mesma rua, estudaram nas mesmas salas de aula, reprovaram a mesma série... Enfim, compartilharam praticamente toda a vida juntos.
Hoje, Pedro e Marcos já estão casados, sendo este último pai de um filho recém-nascido. André é o mais novo deles, mas já está encaminhado para o casamento também. Suas esposas estão preparando a comida para o piquenique enquanto eles conversam: - Vocês viram a luta do Anderson Silva contra o Belfort? - Pedro pergunta.
- Aquela vergonha? Me deu foi raiva esperar até às três da manhã para não assistir a nem cinco minutos de luta! - André responde com um leve sorriso.
Pedro responde:
- Mas não foi vergonha assim, dessa maneira.
- O quê? Que isso Pedro? Nocaute em menos de três minutos; se isso não é vergonha, me diga o que é? - André retruca incisivo - Se fosse eu, desistiria de lutar.
Marcos, o mais maduro, depois de ter guardado silêncio alerta:
- André, nocaute não quer dizer despreparo do adversário, nem que deve ser o fim de uma carreira.
- Então você quer dizer que aquele golpe foi sorte?
- Às vezes a sorte acompanha o preparo.
Pedro retoma:
- O pior é que isso é verdade! Nem o "aranha" (o Anderson Silva) esperava ganhar daquele jeito.
- André, se você levar isso para um lado prático da vida, vai perceber que por vezes tomamos vários "nocautes", mas nem por isso devemos desistir. Repito: o fim de uma luta não precisa ser o fim de uma carreira. - Marcos responde com afeto.
- Marcos, você tem razão - diz Pedro. Por muitas vezes na vida já fui à nocaute, mas nem por isso desisti de lutar. Quantos concursos eu fiz! Muitos. Mais de quatro anos esperando conseguir uma vaga no serviço público. Perdi a conta de quantas vezes eu saí das provas cabisbaixo. Nem por isso desisti. Hoje tenho meu emprego, minha estabilidade, boa renda para sustentar minha casa.
- Sabe Pedro, isso quer dizer que Deus faz as coisas na hora em que Ele quer, e não na nossa. - Marcos responde. Por mais que nos desesperemos, o que acontece sem necessidade, fiquemos ansiosos ou querendo apressar o Senhor, tudo ocorre no seu devido tempo, conforme a Sua vontade.
Pedro e André consentem acenando com a cabeça.
Marcos prossegue:
- Mas Pedro, com você Deus cuidou de lhe providenciar um concurso, mesmo depois de alguns anos, ou seja, mesmo depois da devida espera, Ele cumpriu o desejo do seu coração.
- Sim, é verdade - Pedro concorda.
- Pois é, mas no meu caso foi diferente. Passei cinco anos estudando para concurso e nada, você sabe. Mas nem por isso Ele me desamparou, não sou concursado, mas tenho minha estabilidade em Deus e ganho muito, (bem mais!) do que se estivesse no serviço público.
- Isso é por que Deus trata de cada um de uma maneira. - Pedro responde enquanto brinca com uma pedra.
- Exatamente! Com você foi a questão do tempo. Comigo foi o "como". Deus fez "como" eu não esperava. Não imaginava que me tornaria diretor de uma grande empresa. Embora não era o que eu tanto sonhava ou imaginava, sei que foi o melhor para mim e hoje sinto-me extremamente satisfeito com isso; talvez muito mais do que se estivesse concursado. Não importa o "quando" ou o "como"; o que realmente importa é que Deus esteja no controle.
André resolve voltar à conversa:
- Bom, com Pedro foi o "quando"; com você André, foi o "como". Mas se simplesmente nada tivesse acontecido? Se mesmo depois de tantos anos vocês não tivessem conseguido nada, ainda sim acreditaria que Deus está no controle?
De repente o silêncio falou mais alto.
- Marcos? - Sua esposa o chama.
Ele olha para André e responde:
- Aguarda só um minutinho que eu volto para te responder.
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