Por Júnio Almeida
O dia estava nublado. Eram umas seis horas da manhã e eles já estavam lá há meia hora. Um rio sujo, barrento, mas que alguns pescadores tinham a esperança de encontrar peixes. Esses tais pescadores eram Pedro e seu pai - Marcelo. Este sempre foi alucinado por pesca, e desde que Pedro era pequeno, sempre o levava para rios, lagos, mares... E agora que pedro cresceu, gosta de pesca tanto quanto o pai.
Depois de um silêncio mortal surge uma onda no lago e um movimento brusco do molinete de Pedro, que diz:
- Eita! Esse é dos grandes! - ele puxa com toda a força, enquanto seu pai busca os outros aparatos para apanhar o peixe.
- Vai precisar do alicate, não é? - pergunta Marcelo.
- Com certeza. Pai, se prepare; com esse aqui vamos posar para foto. - as risadas emergem diante da situação.
Eles puxam o peixe para o barco com muito sacrifício. Pedro está cansado e ofegante depois da bela briga proporcionada por um baita Tucunaré de quase um metro.
- E então, dá ou não para tirar uma foto - Pedro abre o sorriso.
- Espere aí. Vou pegar a câmera ali. - Marcelo fala enquanto se levanta.
Depois da foto os dois voltam a pôr as iscas de volta no rio à espera de novos peixes. Eles voltam ao mesmo silêncio de antes. Pedro pressente que seu pai vai dizer algo; de repente se assusta com voz:
- Pedro?
- Oi pai. - ele responde depois de um frio na espinha.
- Como está sua vida com Deus?
Agora o silêncio se aloja na alma de Pedro. Essa pergunta soou como um grito no meio de um vazio inimaginável.
- Sei lá! - ele diz e logo depois dá um profundo suspiro.
- Meu filho, você sabe sim. Diga-me, por favor. Desabafe com seu pai.
- Para falar a verdade pai, acho que minha vida está mais ou menos como esse rio.
- Em que sentido?
- Olhe: a água é barrenta. No fundo há tanta sujeira! E a cor da água esconde o lixo que está lá dentro.
Imprevisivelmente Marcelo esboça um sorriso simples. Ele pára; respira, e diz: Meu filho! Oh meu filho, minha vida também já foi assim.
- Será? Talvez não como a minha.
- Bom, sei que também já me senti da mesma forma: um rio sujo, aparentemente sem vida, sem esperança, cheio de lixo no fundo. E você sabe qual foi a diferença em mim.
- Não; o quê? - Pedro responde com um tom irônico.
- Um dia, neste rio (na minha vida) surgiu um pescador com uma paciência impressionante. Ele ficou aguardando por um bom tempo, com uma esperança inacreditável; tinha certeza que em algum momento encontraria algum sinal de vida. E depois de um certo tempo, mesmo tendo pescado muito lixo no fundo desse rio, começou a encontrar vida, encontrar peixes.
- Pai, queria encontrar esse pescador na minha vida! - A respiração começa a se tornar difícil
- Ele já está aí há um bom tempo, e você o conhece; sabe muito bem de quem estou falando. O Pescador está cheio de esperança para achar a vida, aquela que Ele mesmo colocou em você. Não fique o empurrando para a margem do rio, deixe-o ficar no centro do rio, no centro da sua vida. Deixe-o tirar a sujeira do fundo - ele é mestre em fazer isso.
- Ah, como eu quero!
- Ele também quer, e acredito que Ele já está começando a encontrar a vida que procurava.
Pedro suspira novamente e seus olhos começam a marejar.
- Pedro, Ele é um pescador insistente. não vai desistir, mesmo que pareça haver só lama. Não importa a cor da água - se está barrenta ou cristalina - esse pescador vai insistir.
Pedro começa e ficar ofegante. Faz uma boa pausa.
De repente não resisti e grita: Jesuuuus!
Seu pai espera.
Pedro inspira profundamente e continua:
- Jesus! Por favor, não desista! Permiti que muito lixo se misturasse com o lodo do fundo. Esse rio está podre, mas eu sei que o Senhor tem poder para transformá-lo em um rio de águas cristalinas. - Agora as lágrimas parecem um rio a desaguar dos seus olhos.
- Senhor! Por favor! Por favor! - Seu pai lhe abraça.
- Quanto tempo eu esperei te ver assim.
Eles choram. Seu pai tenta enxugar suas lágrimas, mas Pedro não se contém mais. Ele olha para seu pai como rosto já vermelho e diz:
- Pai, e meu passado? As marcas são profundas.
- Filho, o que passou, passou. O perdão divino é condicionado ao seu arrependimento. Se este é verdadeiro, não há o porquê duvidar - seu passado foi lançado no mar do esquecimento de Deus. Ele não te acusará do que te perdoou.
- Por que eu demorei tanto para aceitar e me render ao Senhor!?
- Cada um tem seu tempo, filho.
- Ainda bem que não foi tarde. - ele responde com um sorriso singelo.
- É, essa foi uma verdadeira pesca maravilhosa. - eles sorriem.
Começam então a arrumar as coisas para voltar. Nem imaginam o que virá ao aportar o barco.
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