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Ex officio é uma expressão latina que significa "por dever do cargo, por obrigação"; muito utilizada no contexto jurídico para se referir ao ato que se realiza sem provocação das partes. Para o contexto do cristianismo, um "cristão ex officio" é aquele que não espera ser provocado ou "incentivado" para ter uma atitude padronizada em Cristo; as atitudes fluem como instinto. Sinta-se livre neste ambiente para opinar, concordar, discordar, sugerir... Desde que de forma respeitosa.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

AS IGREJAS E A POLÍTICA

 
Por Adiel Teófilo 

         Há denominações evangélicas que não se envolvem com política, por absoluta convicção de que a incumbência da Igreja nunca será essa. Outras, no entanto, participam ativamente, através dos seus presidentes e diretores, os quais indicam candidatos como representantes da igreja, promovem campanha eleitoral, pedem votos ao rebanho, e ainda, celebram com esses candidatos acordos e alianças das mais diversas. Justificam tamanho envolvimento, dentre outros argumentos inconsistentes, que a Igreja, como Corpo de Cristo, não precisa de defesa humana, porém, como entidade constituída de pessoas, precisa dos políticos para defendê-la e manter diálogo com os líderes evangélicos.

         Ora, o Senhor Jesus Cristo não incumbiu a Igreja de uma missão, e a organização religiosa de outra bem diferente. Não disse ao rebanho “ide e anunciai”, e aos bispos, pastores e apóstolos, “ide e politicai”. Não mesmo! A tarefa é uma só, embora haja distinção por questões de organização meramente humana. Ademais, os chamados “cristãos” somente estarão, de fato e de verdade, a serviço do Reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo, quando a entidade organizada para esse fim estiver também, exclusivamente, a serviço do Mestre. Não deve, jamais, servir a dois senhores, usurpando a organização jurídica da igreja para se imiscuir em negócios desta vida, alheios ao Reino Celestial (II Timóteo 2.4).

         Sobejam razões para a igreja não se envolver com a política, muito embora certos líderes não queiram enxergar tais verdades. O maior exemplo vem do Senhor Jesus, durante Seu Ministério terreno. Ele não ficou de afagos com os partidários dos saduceus e dos herodianos, não estabeleceu qualquer aliança e nem fez oposição à dominação Romana, mas disse a esses e a outros grupos - escribas, fariseus, judeus, todas as verdades que deveriam ouvir, esclarecendo-nos muito bem: “O meu Reino não é deste mundo” (João 18.36). Estabeleceu desse modo nítida distinção entre o que é de Deus e o que é de César (Lucas 20.25).

         A Constituição Federal de 1988 veda as íntimas relações entre a Igreja e o Estado. No artigo 19, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança. Todavia, contrariando o texto constitucional, há líderes que firmam aliança com políticos e governantes, apoiando-os na campanha, e estes, depois de eleitos, nomeiam pastores e seus familiares para cargos na administração pública e no legislativo, além de oferecer-lhes outras vantagens pessoais. É assim que tem funcionado o esquema político-eleitoral-evangélico. E tudo a pretexto de defender a entidade religiosa, que tanto precisa de “interlocutores” junto ao poder público.

         Nos estatutos de muitas dessas igrejas não consta como finalidade a atividade político-partidária. Fica ainda mais evidente o desvio de finalidade, agindo sua liderança não aos propósitos de servir o Reino do Senhor Jesus, mas para atender aos interesses pessoais, como pastores de si mesmos (Ezequiel 34.1-10). Demonstra ainda egoísmo denominacional, na medida em que se arvora no direito de ter seu representante político exclusivo, em detrimento de várias outras denominações evangélicas, que sequer foram consultadas a respeito.

         E a usurpação prossegue... Sem qualquer autorização estatutária, nem mandato outorgado pelos membros e congregados, muitos são os dirigentes evangélicos que, de forma arbitrária, julgam-se no direito de escolher candidatos em nome da igreja. E assim agem de forma isolada, impondo a vontade pessoal ou do grupo da liderança, sem sequer ouvir ou consultar o rebanho, do qual deveria cuidar, zelar e pastorear. Atitudes como essas ocasionam sérios constrangimentos, além de murmurações e até mesmo dissensões entre membros (I Coríntios 1.10), pois nem sempre comungam das mesmas escolhas políticas impostas por seus dirigentes. E o lugar dessas escolhas é nas urnas e não nos templos religiosos, onde deveria ser abundante a oração e súplica em favor de todas as autoridades (I Timóteo 2.1-4).

         Além de tudo isso, a igreja fica seriamente comprometida com o desempenho futuro do candidato. Ocorrendo qualquer problema ou escândalo na sua atuação como governante ou parlamentar, a imagem da igreja que o apoiou pode ser também afetada, perdendo a credibilidade da opinião pública, além de ser alvo de críticas e comentários que envergonham o Evangelho. A “oração da propina” é emblemática no envolvimento de Deputados Distritais evangélicos recebendo propina. "Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!"  (Mateus 18.7).

         Enfim, dentre tantas outras razões, a organização religiosa precisa atuar em função do Corpo de Cristo, razão única de sua existência terrena. Deve servir e anunciar o Reino de Deus, e não agir como um reino de acordos à parte, dissociado das necessidades dos seus membros, pois eles são "o corpo de Cristo, e seus membros em particular" (I Coríntios 12.27). Portanto, todos que fazem parte da igreja devem cumprir a primordial missão da Igreja de ir e fazer discípulos em todos os lugares (Mateus 28.19 e 20). Ide e anunciai, foi o que disse Jesus Cristo. Não mandou ninguém usar da igreja para politicagens.
         

Um comentário:

  1. Para mim, é uma verdadeira tristeza e falta de espiritualidade, essa realidade no meio evangélico. Mas é que nem todos conseguem enxergar a Cristo como Ele se deixou ser revelado. E a grande verdade é que, muitas vezes, achamos que somos muito mais importantes do que Ele, do que pensa, do que diz, e até dos Seu plano de salvação para toda a humanidade.
    Infelizmente temos que conviver com essa cegueira absurda e completamente desprezível.
    Parabéns pelo texto!

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